Este é já o 2º Campeonato. Como no ano anterior fiquei pelo caminho à segunda volta, vou tentar novamente, talvez com um pouco mais de empenho.
Bom! Estas palavras levaram-me, claro está, a pesquisar sobre algumas das dúvidas que fui encontrando aquando da minha primeira tentativa para realizar o famigerado teste.
Numa dessas atentas investigações, encontro o seguinte comentário, que me atrevo a citar, revelador do objecto onde reside a dificuldade de realização deste teste:
“As diversas Comissões que preparam esta prova tinham a obrigação de evitar este tipo de questões polémicas; mas não, servem-se delas como armadilhas para eliminar muito boa gente da prova.
Um outro exemplo bem elucidativo é o número de erros nos textos; a prova será corrigida considerando como erros as expressões meia voz, meias palavras, meias medidas e meias tintas, só porque o Dicionário de referência da prova escreve meia-voz, meias-palavras, meias-medidas e meias-tintas com hífen, embora a grande maioria dos dicionários (incluindo o Houaiss) coloquem hífen apenas em meia-voz e em meias-tintas.
Enfim, o que acaba por interessar não é saber falar e escrever português correctamente, mas sim adivinhar o que as Comissões esperam como respostas.” pesquisador
Bom! Estas palavras levaram-me, claro está, a pesquisar sobre algumas das dúvidas que fui encontrando aquando da minha primeira tentativa para realizar o famigerado teste.
Numa dessas atentas investigações, encontro o seguinte comentário, que me atrevo a citar, revelador do objecto onde reside a dificuldade de realização deste teste:
“As diversas Comissões que preparam esta prova tinham a obrigação de evitar este tipo de questões polémicas; mas não, servem-se delas como armadilhas para eliminar muito boa gente da prova.
Um outro exemplo bem elucidativo é o número de erros nos textos; a prova será corrigida considerando como erros as expressões meia voz, meias palavras, meias medidas e meias tintas, só porque o Dicionário de referência da prova escreve meia-voz, meias-palavras, meias-medidas e meias-tintas com hífen, embora a grande maioria dos dicionários (incluindo o Houaiss) coloquem hífen apenas em meia-voz e em meias-tintas.
Enfim, o que acaba por interessar não é saber falar e escrever português correctamente, mas sim adivinhar o que as Comissões esperam como respostas.” pesquisador
2 comentários:
Aqui estão as minhas respostas:
13 erros
1 - D
2 - A
3 - B
4 - B
5 - C
6 - E
7 - B
8 - D
9 - B
10 - B
16 erros
11 - C
12 - C
13 - C
14 - B
15 - D
16 - C
17 - B
18 - A
19 - A
20 - B
Aqui está a correcção do teste:
TEXTO A (todos os concorrentes)
Quantos erros existem no seguinte texto?
Francisco e Leonor chegaram atrazados ao apartamento da Joana, que lhes prometera uma surpresa. Ficaram ambos boqueabertos quando olharam para a mezinha do quarto e viram uma consola de jogos eletrónicos novinha em folha, com um aspecto reluzente e sedutor. O rapaz estava visìvelmente fascinado e derrepente desatou a carregar em todos os botões. Joana protestou:
– Quico, não faças isso, que me estragas a consola! Só a tenho à uma semana. Oh mãe, venha cá depressa!
Joana parecia furiosa. Era uma rapariga irrascível e amoava com facilidade. Perante a birra da anfitriã e a indiferença do amigo, cada vez mais absorto no jogo, Leonor encolheu os ombros, sorriu e disse a meia voz, tranquilamente:
– Vou à dispensa ver se há chocolates. Estou com vontade de comer uma goloseima qualquer...
O texto tem 13 erros.
Correcção dos erros:
1 – atrasados em vez de atrazados – Trata-se de um erro ortográfico: a terceira sílaba da palavra começa por “s” e não por “z”. É um adjectivo formado a partir do verbo “atrasar”, que, por sua vez, tem na sua origem o advérbio “atrás” (do latim ad trans) e o sufixo “-ar”.
2 – boquiabertos em vez de boqueabertos – Este adjectivo deve ser escrito com “i”, porque, na sua formação, se encontra o elemento “boqui- ” , que exprime a ideia de boca.
3 – mesinha em vez de mezinha – Neste contexto, trata-se de “mesinha”, diminutivo de “mesa” (do latim mensa). A forma “mezinha” também existe em português, com o significado de “receita caseira”; neste caso, deriva do latim medicina.
4 – electrónicos em vez de eletrónicos – A palavra em português de Portugal tem de ser escrita com um “c” antes do “t”, por se respeitar a etimologia grega (eléktron, que significava “âmbar-amarelo”); no entanto, saliente-se que o vocábulo chegou à nossa língua por via do francês électronique.
5 – visivelmente em vez de visìvelmente – Este advérbio de modo, como todos os que se formam a partir de adjectivos que têm acento agudo na sílaba tónica (neste caso, o adjectivo “visível”), não tem acento grave. Até aos anos 50 do século XX, todos esses advérbios eram escritos com acento grave na vogal que correspondia à sílaba tónica do adjectivo de origem.
6 – de repente em vez de derrepente – Não estamos perante um advérbio, mas sim perante uma locução adverbial, que mantém separados os seus elementos de formação, assim como “de longe”, “de noite”, “de cor”, “de dentro”, etc.
7 – há (uma semana) em vez de à (uma semana) – É evidente que a grafia está incorrecta: não se trata da contracção da preposição “a” e do artigo definido feminino “a”, mas sim da 3ª pessoa do singular do presente do indicativo do verbo “haver”. Pressupõe-se que se quer dizer “desde há uma semana”.
8 – Ó em vez de Oh – Neste caso, a interjeição não pretende significar “admiração, espanto, alegria, repugnância, tristeza ou dor”, a qual sempre surge isolada, mas, ligada à palavra “mãe”, indica “chamamento ou invocação”. Aqui, portanto, trata-se de uma interjeição utilizada de modo vocativo, e não exclamativo.
9 – irascível em vez de irrascível – Na verdade, o adjectivo “irascível” (do latim irascibile-), que significa “sujeito a irar-se” ou “que se irrita facilmente”, relaciona-se com “ira” e não com “irra”. A contaminação por esta última forma explica-se pelo intento evidente de reforço expressivo.
10 – amuava em vez de amoava – O verbo “amuar”, de que “amuava” é forma do pretérito imperfeito do indicativo na 3ª pessoa do singular, deve ser escrito com “u” e não com “o”: curiosamente, esse pormenor ortográfico deve-se ao facto de a palavra derivar de “a-+mu+ar”, em que “mu” representa “mulo” (“macho”), e que se encontra também presente em “gado muar”. O significado do verbo é, naturalmente, “tornar amuado”, “aborrecer”, “melindrar”, “ofender”, “agastar-se sem dizer o motivo”.
11 – a meia-voz em vez de a meia voz – Como em muitos outros casos em que “meia” indica “metade”, também nesta expressão “a meia-voz” se emprega o hífen, significando “em voz baixa; em surdina”.
12 – despensa em vez de dispensa – Neste contexto, será “despensa”, isto é, “pequeno compartimento onde se guardam maioritariamente produtos alimentares” (tem como étimo o latim dispensa-, particípio passado plural neutro de dispendere, “despender”), enquanto “dispensa” significa “acto ou efeito de dispensar; licença para não se fazer algo a que se está obrigado; permissão para não cumprir o que está estabelecido; isenção; escusa; requerimento em que se pede esta licença; documento em que se concede esta licença” (é forma de derivação regressiva de dispensar).
13 – guloseima em vez de goloseima – Não se escreve “goloseima” por não ter nada a ver com “gole” ou com “golo”, mas sim com “gula”, ou mais acertadamente com “guloso”. A palavra significa “doce ou iguaria muito apetitosa; gulodice”.
A versão correcta do texto seria a seguinte:
Francisco e Leonor chegaram atrasados ao apartamento da Joana, que lhes prometera uma surpresa. Ficaram ambos boquiabertos quando olharam para a mesinha do quarto e viram uma consola de jogos electrónicos novinha em folha, com um aspecto reluzente e sedutor. O rapaz estava visivelmente fascinado e de repente desatou a carregar em todos os botões. Joana protestou:
– Quico, não faças isso, que me estragas a consola! Só a tenho há uma semana. Ó mãe, venha cá depressa!
Joana parecia furiosa. Era uma rapariga irascível e amuava com facilidade. Perante a birra da anfitriã e a indiferença do amigo, cada vez mais absorto no jogo, Leonor encolheu os ombros, sorriu e disse a meia-voz, tranquilamente:
– Vou à despensa ver se há chocolates. Estou com vontade de comer uma guloseima qualquer...
PERGUNTAS 1 A 5 (todos os concorrentes)
1 – Qual é o feminino de indivíduo?
A – indivídua
B – individual
C – indivisa
D – não tem feminino
Resposta D – não tem feminino.
Indivíduo significa “entidade distinta e separada”, sujeito responsável por uma acção. Contrariamente a “homem”, que remete para uma pessoa adulta do sexo masculino e tem por feminino “mulher” – quando se não refere à humanidade em geral – , o substantivo indivíduo é invariável em género, correspondendo a “pessoa”.
2 – Qual das seguintes frases está incorrecta?
A – Pensaste bem o que eu te falei?
B – Pensaste sobre o que eu te tinha dito?
C – Pensaste no que eu te disse?
D – Pensaste acerca do que eu te tinha dito?
Resposta A – Pensaste bem o que eu te falei?
O verbo “pensar”, com a significação de “reflectir sobre; meditar”, exige sempre, como nas outras hipóteses registadas, a preposição “em”, “de” ou “sobre” ou a locução prepositiva “acerca de”. A frase correcta seria “Pensaste bem naquilo de que eu te falei”. Por seu turno, o verbo “falar” exige a preposição-regência “de”. “Pensar” (“julgar”) sem preposição é possível em frases como “Pensei que tinhas ido ao mercado”, “Pensei enviá-lo pelo correio” ou, com outro sentido (“aplicar um penso”), em “O enfermeiro pensou a ferida”.
3 – Qual é o plural correcto de pôr-do-sol?
A – pôr-dos-sóis
B – pores-do-sol
C – pores-dos-sóis
Resposta B – pores-do-sol.
Na verdade, tratando-se de uma palavra composta por justaposição de dois substantivos unidos por preposição, só o primeiro vai para o plural: pores-do-sol (o primeiro substantivo deixa de ter acento circunflexo). Neste caso, “pôr”, embora pareça ser um verbo, é um infinitivo substantivado, ou seja, um substantivo. A formação deste plural é semelhante às de “chapéus-de-sol” ou “estrelas-do-mar”.
4 – Na frase “João garantiu que voltava”, a palavra que desempenha a função de
A – conjunção causal
B – conjunção integrante
C – conjunção consecutiva
D – pronome interrogativo
E – pronome relativo
Resposta B – conjunção integrante.
Na frase proposta a palavra “que” desempenha a função de conjunção integrante. Como afirma a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, as conjunções integrantes “servem para introduzir uma oração que funciona como sujeito, objecto directo, objecto indirecto, predicativo, complemento nominal ou aposto de outra oração”, o que acontece no caso apresentado.
5 – A palavra pirâmide é de origem
A – egípcia
B – árabe
C – grega
D – germânica
E – celta
Resposta C – grega.
O substantivo “pirâmide” tem origem grega, provindo da forma pyramís, -ídos, com um significado análogo ao que hoje mantém (“sólido geométrico” ou construção com essa forma). Passou depois para o latim e para a maioria das línguas românicas sem sofrer grandes alterações ao longo dos séculos.
Se tem menos de 15 anos, o seu teste termina aqui.
PERGUNTAS 6 A 10 (concorrentes maiores de 15 anos)
6 – Um adrasto significa
A – o irmão do padrasto
B – o ex-marido da madrasta
C – o pai do padrasto
D – qualquer parente por afinidade
E – um insecto coleóptero
Resposta E – um insecto coleóptero.
Um adrasto é, efectivamente, um insecto coleóptero, isto é, cujas “asas anteriores são fortemente coriáceas, que tem armadura bucal trituradora e metamorfoses completas”. Pertence à família dos Elaterídeos e executa saltos acrobáticos rapidíssimos.
7 – A frase: “Para dizer-mos a palavra mais adequada, importa dar atenção ao assunto e ao contexto”
A – está correcta
B – está incorrecta
Resposta B – está incorrecta.
No modo infinitivo, a formulação correcta da frase seria: “Para dizer a palavra mais adequada, importa dar atenção ao assunto e ao contexto”. Outra hipótese seria a de ambas as formas verbais figurarem na 1ª pessoa do plural do infinitivo pessoal – “Para dizermos a palavra mais adequada, importa darmos atenção ao assunto e ao contexto”. De qualquer modo, a forma “dizermos” nunca se escreveria com hífen, o qual seria necessário, por exemplo, em: “Tenho de saber esses segredos, mas deves dizer-mos só a mim”.
8 – Qual destas quatro consoantes é sonora?
A – F
B – P
C – T
D – B
Resposta D – B.
Tal como é atestado pela Nova Gramática do Português Contemporâneo, a consoante sonora é B, já que é produzida com a vibração das cordas vocais. As consoantes F, P e T são surdas, sendo produzidas sem vibração das cordas vocais.
9 – Qual é o superlativo absoluto sintético do adjectivo pulcro?
A – pulcríssimo
B – pulquérrimo
C – pulcrérrimo
D – pulquíssimo
Resposta B – pulquérrimo.
O adjectivo “pulcro” provém do latim pulchru- (“belo, formoso”) e está associado, por exemplo, a “pulcritude”, exprimindo a ideia de beleza, formosura ou perfeição. No entanto, nenhuma das três hipóteses (A, C ou D) é correcta, sendo o superlativo absoluto sintético pulquérrimo a única forma aceite e fixada nos dicionários de língua portuguesa.
10 – Das seguintes frases, apenas uma está incorrecta. Qual?
A – Queria um copo de água com gelo.
B – Encomendei um colete em seda vermelha.
C – Vou comprar uma caixa de fósforos.
Resposta B – Encomendei um colete em seda vermelha.
A preposição “em” não deve ser empregue para significar “matéria”, como acontece em francês: terá de ser “colete de seda vermelha”. “Copo de água” também se encontra correcto, porque o “de” se aplica ao continente pelo conteúdo; e podemos inclusive confrontar com a possibilidade “copo com água”. Enquanto esta última designa em português um “copo com alguma água”, a primeira ocorrência significa “copo cheio de água” ou “copo para água”. O mesmo acontece com “caixa de fósforos”, em que metonimicamente temos a designação do continente por alusão ao conteúdo. Também neste caso, “caixa com fósforos” aponta para uma “caixa que não se encontra cheia de fósforos” ou “caixa cuja finalidade primeira não é conter fósforos”.
Se tem menos de 18 anos, o seu teste termina aqui.
TEXTO B (concorrentes maiores de 18 anos)
Quantos erros existem no seguinte texto, tal como foi transcrito por alguém que, como tudo indica, não tem conhecimentos suficientes de ortografia e de gramática portuguesa?
Ao ser hoje empoçado como Presidente da República, prometo solenemente a todos os dignatários do Estado que lutarei com denodo em prole do pais, nas diversas árias em que se faz sentir a crise nacional. Farei o que poder para vencer quaisqueres obstáculos que à nossa frente se perfilem!
O défice português provem de muitos problemas cuja solução global é difícil e não se compadece com meias palavras ou com meias medidas. Como sabem, o panorama está longe de ser edílico, mas eu nunca fui um homem de meias tintas! Por isso, faço tensão de propôr ao governo, assim que me reunir com o primeiro ministro, um conjunto de leis corajosas e eficazes a aplicar com a maior urgência. Só assim franquiaremos com toda a confiança as portas do nosso futuro colectivo.
O texto tem 16 erros.
Nota – Devido a algumas dúvidas suscitadas pela regência do verbo compadecer e pela conjugação do verbo perfilar, serão também admitidas as respostas que indiquem de 16 a 19 erros.
Correcção dos erros:
1 – empossado em vez de empoçado – Enquanto o verbo “empossar” significa “dar posse” a alguém, “empoçar” tem o sentido de “meter em poço ou em poça” e de “formar poça ou atoleiro”.
2 – dignitários em vez de dignatários – Este erro é relativamente frequente, surgindo talvez por influência do verbo “dignar-se”. Deve esclarecer-se que a forma correcta para designar quaisquer altas individualidades é sempre dignitários.
3 – em prol em vez de em prole – Para corrigir este erro deveria ser utilizada a expressão “em prol de”, que significa “a favor de” ou “em defesa de”. A confusão estabelece-se aqui com o substantivo “prole”, que alude ao conjunto de filhos ou descendentes de alguém.
4 – país em vez de pais – A falta do acento agudo na palavra país modifica completamente a sua prosódia e o seu sentido, tornando-a igual ao plural de “pai”.
5 – áreas em vez de árias – A homofonia entre estas duas palavras esconde grafias e significados diferentes: neste caso o texto não se referia a qualquer “ária” para ser cantada – “peça vocal solística com acompanhamento de um ou mais instrumentos” – aludindo, pelo contrário, a “área” no sentido de “campo em que se exerce determinada acção”.
6 – puder em vez de poder – Neste erro deu-se uma confusão entre o infinitivo do verbo “poder” e a forma do futuro do conjuntivo do mesmo verbo, que aqui deveria ser conjugado na 1ª pessoa do singular, correspondente à forma “puder”.
7 – quaisquer em vez de quaisqueres – Embora a forma errada “quaisqueres” surja infelizmente com alguma frequência, sobretudo na oralidade, o plural de “qualquer” é sempre “quaisquer”.
8 – provém em vez de provem – Na transcrição destas duas formas verbais confundiu-se a 3ª pessoa do singular do presente do indicativo do verbo “provir” – que necessitaria de acento agudo – com a 3ª pessoa do plural do presente do conjuntivo do verbo “provar”.
9 – meias-palavras em vez de meias palavras – O substantivo feminino plural meias-palavras deve ser escrito com hífen, já que, segundo o Grande Dicionário da Língua Portuguesa (Porto Editora), significa uma “expressão que não diz tudo, antes deixa adivinhar”, podendo também aludir a “evasivas”.
10 – meias-medidas em vez de meias medidas – Tal como no erro anterior, estamos igualmente perante um substantivo feminino plural em que é necessária a presença de um hífen. De acordo com o mesmo dicionário, o seu sentido é o de “hesitação, dúvida” ou “receio”, implicando falta de coragem.
11 – idílico em vez de edílico – Ao transcrever o texto, aconteceu uma confusão entre dois adjectivos: “idílico”, que se aplicaria a um panorama agradável, “pastoril, bucólico”, “que envolve sentimentos ternos e puros”; e “edílico”, que também existe na nossa língua e é relativo a um “edil”, ou seja, a um “vereador” ou autarca.
12 – meias-tintas em vez de meias tintas – Esta palavra necessitaria de ser escrita com hífen, mas, ao contrário dos erros 9 e 10, trata-se de um substantivo feminino que tanto pode ser utilizado no singular “meia-tinta” – com o sentido pictórico de uma “tonalidade de cor” – como no plural, tendo neste caso a acepção de “fingimento” ou “dissimulação”.
13 – tenção em vez de tensão – Se bem que as palavras “tensão” e “tenção” se pronunciem do mesmo modo, os seus significados são muito diferentes: a primeira identifica-se com “qualidade ou estado do que é (ou está) tenso”, enquanto a palavra “tenção” se refere neste caso a “intenção, propósito, vontade, desígnio ou objectivo”.
14 – propor em vez de propôr – Embora derivando do verbo “pôr”, que se escreve com acento circunflexo, verbos como “dispor”, “propor”, “repor”, “sobrepor”, etc., não necessitam de qualquer acento gráfico.
15 – primeiro-ministro em vez de primeiro ministro – O substantivo primeiro-ministro deve ser escrito com hífen, por designar o “chefe do Governo”, que preside ao Conselho de Ministros. Casos semelhantes ocorrem, por exemplo, em “primeiro-cabo”, “primeiro-sargento”, “primeiro-tenente” ou “primeiro-violino”.
16 – franquearemos em vez de franquiaremos – A origem deste erro parte de uma confusão entre os verbos “franquear” – “desimpedir” ou “facultar o acesso” a alguma coisa – e “franquiar”, cujo significado é o de “pôr a franquia ou selo em correspondência ou encomenda postal”.
A versão correcta do texto seria a seguinte:
Ao ser hoje empossado como Presidente da República, prometo solenemente a todos os dignitários do Estado que lutarei com denodo em prol do país, nas diversas áreas em que se faz sentir a crise nacional. Farei o que puder para vencer quaisquer obstáculos que à nossa frente se perfilem!
O défice português provém de muitos problemas cuja solução global é difícil e não se compadece com meias-palavras ou com meias-medidas. Como sabem, o panorama está longe de ser idílico, mas eu nunca fui um homem de meias-tintas! Por isso, faço tenção de propor ao governo, assim que me reunir com o primeiro-ministro, um conjunto de leis corajosas e eficazes a aplicar com a maior urgência. Só assim franquearemos com toda a confiança as portas do nosso futuro colectivo.
PERGUNTAS 11 A 20 (concorrentes maiores de 18 anos)
11 – A palavra “falperra” designa
A – um ano agrícola rude e difícil
B – um maltrapilho
C – uma roubalheira
D – uma bebedeira
Resposta C – uma roubalheira.
Na realidade, “Falperra” é um topónimo (nome de localidade, lugar ou sítio) que designa uma serra do Norte de Portugal, onde antigamente se acoitavam muitos salteadores de estrada. Por extensão, o termo acabou por designar qualquer “lugar onde se praticam muitos roubos” ou simplesmente a prática dos mesmos, ou seja, uma roubalheira.
12 – Qual o sentido habitualmente atribuído à expressão latina “verbi gratia”?
A – verbos grandes
B – palavras belas
C – por exemplo
D – por outras palavras
Resposta C – por exemplo.
A locução latina “verbi gratia” – mais utilizada sob a forma abreviada “v.g.” – significa por exemplo, transmitindo a ideia de (outras) palavras graças às quais se pode ampliar, exemplificando, o sentido do que se pretende exprimir.
13 – Um filumenista é aquele que colecciona
A – objectos de cristal
B – instrumentos musicais
C – caixas de fósforos
D – lacres e timbres
E – jóias antigas
Resposta C – caixas de fósforos.
A palavra filumenista designa qualquer pessoa que se dedique a coleccionar caixas ou carteiras de fósforos, provindo do grego phílos (amigo) e do latim lumen (luz, lume), aos quais se acrescentou o sufixo português “-ista.”
14 – Qual pensa ser a frase gramaticalmente incorrecta?
A – No serão, sou eu que canto.
B – No serão, sou eu quem canto.
C – No serão, sou eu que vou cantar.
D – No serão, sou eu quem vai cantar.
Resposta B – No serão, sou eu quem canto.
O emprego de “quem” (“aquele que”) exige a forma verbal em terceira pessoa, como acontece na frase D. Neste caso, devíamos ter “No serão, sou eu quem canta”. Todas as outras frases se encontram, pois, bem construídas: com “que” a concordância faz-se com a pessoa gramatical anunciada (“eu”).
15 – Indique qual a hipótese correcta:
A – febra
B – fevra
C – fêvera
D – todas as anteriores (A, B e C)
E – nenhuma das anteriores (A, B e C)
Resposta D – todas as anteriores (A, B e C).
O substantivo proposto (derivado do latim fibra- ) designa um pedaço de “carne sem osso nem gordura” e utiliza-se muito na gastronomia portuguesa, mais frequentemente no plural. Pode escrever-se das três maneiras enunciadas em A, B e C, sem sofrer alteração alguma do ponto de vista do seu significado.
16 – Destas quatro palavras, só uma está erradamente escrita. Qual?
A – cardeal
B – cardial
C – cordeal
D – cordial
Resposta C – cordeal.
Das quatro palavras apresentadas, a única forma incorrecta é cordeal, que não existe na nossa língua. Quanto às restantes, cardeal significa um “alto dignitário da Igreja Católica” (além de designar os “pontos cardeais”, bem como várias espécies animais e vegetais), cardial é um adjectivo relativo à “cárdia” (“orifício que estabelece a passagem do esófago para o estômago”) e cordial é usado como adjectivo no sentido de “afectuoso” ou “amistoso”, podendo significar ainda, como substantivo, uma “bebida fortificante”.
17 – O que significa a expressão “dar à casca”?
A – comer muito
B – melindrar-se
C – fugir a correr
D – bater em alguém com violência
E – conversar com alguém
Resposta B – melindrar-se.
Como é atestado pelo Grande Dicionário da Língua Portuguesa (Porto Editora), a expressão idiomática dar à casca significa “melindrar-se”, ou seja, “amuar” ou “sentir-se ofendido” com alguma coisa.
18 – Indique qual destas frases não é adequada.
A – A cessão extraordinária da assembleia teve quorum.
B – A cessação do processo estava prevista já há muito tempo.
C – Não foi fácil a cessão da parte contrária neste acordo.
D – Aquela sezão foi muito violenta.
Resposta A –A cessão extraordinária da assembleia teve quorum.
A frase não é adequada, porque “cessão” deveria ser escrita com “s”: “sessão”. Aqui o que interessa é o “tempo durante o qual está reunido um corpo deliberativo ou uma corporação qualquer; cada uma das reuniões dos sócios que realizam até à conclusão dos trabalhos respeitantes aos assuntos em apreço”. Deriva do latim sessione- “acto de sentar-se”. A palavra “cessão”, correctamente empregue na hipótese C, significa “acto ou efeito de ceder; cedência; transferência; transmissão” ou, conforme a linguagem jurídica, “acto ou efeito de ceder algo por via contratual” (do latim cessione-, “acto de ceder”). Na hipótese B, também correcta, “cessação” indica “acto ou efeito de cessar; fim; interrupção; paragem; suspensão” e tem como étimo o latim cessatione- , “acção de ceder”. Por fim, na hipótese D, “sezão” indica, também correctamente, “febre intensa e intermitente”; deriva do latim acessione [morbi]- , “acesso de uma enfermidade”.
19 – Apenas uma das seguintes variantes deste provérbio está errada. Qual?
A – Janeiro quente traz fartura a toda a gente.
B – Janeiro quente traz o diabo no ventre.
C – Janeiro greleiro não enche o celeiro.
D – Janeiro frio e molhado enche a tulha e farta o gado.
Resposta A – Janeiro quente traz fartura a toda a gente.
O adagiário popular português é muito rico em provérbios que dizem respeito ao mês de Janeiro. Para um bom ano agrícola, é desejável que tal mês seja frio ou mesmo “frio e molhado” (hipótese D), tornando-se claramente pernicioso se for “quente” (hipótese B) ou “greleiro” (hipótese C). As formas B, C e D encontram-se documentadas na Nova Recolha de Provérbios e Outros Lugares-Comuns Portugueses (org. Manuel João Gomes, Lisboa, Ed. Afrodite, 1974). Assim, a única variante errada e não documentada é a que surge na hipótese A, visto que um Janeiro quente nunca poderia trazer “fartura a toda a gente”.
20 – Qual dos seguintes adjectivos não é sinónimo de diserto?
A – facundo
B – seco
C – hábil
D – eloquente
Resposta B – seco.
Seco não é, de facto, sinónimo do adjectivo “diserto”, que, derivando directamente do latim disertu-, significa “facundo; hábil na linguagem; eloquente”.
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